Muitas pessoas famosas sofrem de Síndrome de Caetano Veloso. Tom Jobim, por exemplo, que eu amo de paixão, já tive a honra de entrevistar e considero o melhor músico da história do Brasil. Mas vamos reconhecer: cometeu erros, fez bobagens e alguma coisa de sua produção artística não vai deixar saudade. Mas, ah! Vá falar mal de Tom Jobim! Certamente olhares tortos virão em sua direção. Heresia! Heresia! Gritarão os fãs ensandecidos. E isso ocorre com muitas outras pessoas, como Carlos Drummond de Andrade, Chico Buarque, Ayrton Senna, Oscar Niemeyer, Pelé, Clarice Lispector e outros que, cada um na sua área de atuação, são tão consagrados que se você os critica ou questiona a qualidade daquilo que fazem ou fizeram… o errado certamente será você.
A questão é que no meio cristão a Síndrome de Caetano Veloso se manifesta com a mesma intensidade que no mundo. Nós, cristãos, nesse aspecto não somos nadinha diferentes dos não-cristãos. Gostamos de criar nossos ícones, de idolatrar nossos artistas, pregadores e afins e, se alguém tem a ousadia de criticá-los, saímos raivosos em sua defesa, acusando seus críticos de carnalidade, ignorância e, com bastante frequência, de estarem sendo usados pelo diabo. Venha alguém falar que aquela cantora gospel da moda tem uma voz insuportável e prepare-se para ser alvo de um fuzilamento da parte dos fãs ardorosos. Critique você aquele pastor famoso da televisão e tenha a petulância de dizer que aquela campanha que ele lançou no seu programa não tem nada de espiritual e é só uma estratégia humana para arrecadar dinheiro e comprar um jatinho particular. Nossa! Se você fizer isso é capaz de aqueles irmãos que idolatram esse pastor tentarem expulsar demônios de você e até mesmo pedirem sua cabeça no seminário teológico onde você dá aula.
Os desigrejados aplicarão a Síndrome de Caetano Veloso ao pastor que vive detonando a igreja institucional. Os adeptos da batalha espiritual aplicarão a Síndrome de Caetano Veloso ao grupo que dá seminários de mapeamento espiritual. As irmãs que suspiram por esse ou aquele cantor gospel aplicarão a Síndrome de Caetano Veloso ao seu artista favorito. Os intelectuais aplicarão a Síndrome de Caetano Veloso ao teólogo que consideram o grande pensador de sua era. Os emergentes aplicarão a Síndrome de Caetano Veloso ao pregador moderninho e carismático que fala a língua da contemporaneidade. Os cristãos mais sensíveis aplicarão a Síndrome de Caetano Veloso ao pastor que vive falando de amor nas redes sociais, mesmo que ele pregue as maiores heresias. Eu aplicarei a Síndrome de Caetano Veloso a alguém que admiro tanto, mas tanto, que nem consigo identificar quem é – pois a Síndrome de Caetano Veloso remove de nós todo senso crítico. Simplesmente nos sentamos aos pés da pessoa amada e idolatrada e suspiramos por ela, sem nos darmos conta da multidão de problemas que ela carrega. E pior: da multidão de maus exemplos que muitas vezes ela dá. Por isso que todos os dias procuro identificar quem são os meus caetanos velosos, quem são aqueles que estou deificando e olhando com um olhar menos bereano: pois sou tão passível de sofrer desse mal como você.
A desgraça dessa Síndrome é que ela põe homens e mulheres falíveis, equivocados, muitas vezes perversos, gananciosos e até mesmo inimigos da sã doutrina numa posição em que os blindamos de toda e qualquer crítica. E, com isso, alimentamos o ciclo do pecado. Pois não há ninguém, seja pastor, pregador, semideus ou papa, que esteja acima de erro e que mereça nossa rendição incondicional e acrítica.
Exceto Jesus.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Autor: Mauricio Zágari
Fonte: apenas1.wordpress.com
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